Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes

Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes: Uma Ode ao Caos Britânico (27 anos depois)

Em 17 de setembro de 2025, revisitando Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes – ou, para os íntimos, “Lock, Stock and Two Smoking Barrels” – é como encontrar um velho amigo meio desgrenhado, mas incrivelmente charmoso. Lançado em 1998, e chegando ao Brasil em 25 de junho de 1999, este longa-metragem de Guy Ritchie continua a ser uma experiência cinematográfica única, um turbilhão de gângsteres desajeitados, apostas milionárias e um humor negro que ainda hoje me faz rir.

A trama gira em torno de Eddy, um jovem esperto que se mete em uma fria ao organizar uma aposta de pôquer com um perigoso chefe do crime. As coisas dão terrivelmente errado, e ele precisa arranjar meio milhão de libras em uma semana para salvar o bar do pai. A solução? Uma série de golpes e roubos hilariantes, envolvendo seus amigos, cada um com sua própria personalidade excêntrica e peculiar.

Ritchie, tanto na direção quanto no roteiro, imprime uma assinatura inconfundível. A narrativa frenética, com saltos temporais e diálogos rápidos e espirituosos, é uma marca registrada. A câmera dança, em um estilo quase frenético, acompanhando a energia caótica da história. O ritmo é contagiante, mantendo-nos na ponta da cadeira, mesmo sabendo que o caos está sempre prestes a explodir. A trilha sonora, uma mistura eclética de clássicos e músicas contemporâneas, contribui muito para a atmosfera única do filme. São esses elementos que, para mim, elevam Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes acima de uma simples comédia de crime.

As atuações são fenomenais. A jovem geração de atores britânicos, incluindo um Jason Statham ainda a descobrir seu lugar no cinema de ação (ele é simplesmente incrível como Bacon!), Vinnie Jones, Jason Flemyng e Nick Moran, formam um conjunto brilhante. Cada um deles carrega sua própria energia, e a dinâmica entre os personagens é palpável, criando uma química deliciosa na tela. A atuação de Jones como Big Chris é memorável, um personagem que apesar de imponente, acaba roubando a cena com sua personalidade peculiar e sua maneira de ser, ao mesmo tempo violenta e engraçada.

Mas, como toda obra-prima, o filme não está isento de defeitos. A trama, apesar da sua energia, pode parecer confusa em alguns momentos, e alguns personagens secundários são um tanto subdesenvolvidos. O final, embora satisfatório, poderia ter sido mais explorado.

Apesar dessas pequenas falhas, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes é um sucesso absoluto. O filme é uma celebração da amizade, da lealdade (um tanto distorcida), e do caos que a vida pode nos reservar. A trama toca em temas como ambição, traição, e a busca pela redenção, ainda que por caminhos nada ortodoxos. Há uma estética peculiar no filme, que se encontra na junção da violência com um humor negro britânico que é quase surreal. O machismo está presente, mas é retratado com uma ironia que dificilmente o torna ofensivo. O filme reflete a atmosfera de Londres nos anos 90, uma cidade cinzenta e sombria, porém com um brilho singular em meio à violência e à criminalidade.

Concordo parcialmente com a crítica que diz “Far from being a good movie, with tons of flaws but already pointing to the pattern of the whole Ritchie’s filmography”. Sim, existem falhas, mas essas falhas fazem parte da identidade do filme. Elas são parte da sua beleza imperfeita, assim como as imperfeições de seus personagens. Para mim, esses defeitos não diminuem o seu valor, mas sim o tornam mais autêntico, mais humano. É um filme que, apesar dos seus 27 anos, permanece extremamente relevante e divertido. Portanto, sem hesitação, recomendo fortemente Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes para quem busca uma comédia de crime inteligente, original, e incrivelmente divertida. Disponível em diversas plataformas digitais, assista e deixe-se levar pelo turbilhão de caos e humor britânico. Você não vai se arrepender.