Um Marido Fiel

Ah, o casamento! Aquela instituição que, em sua essência, promete união, cumplicidade, um porto seguro onde dois corações se aninham contra as intempéries do mundo. Mas e se esse porto se transforma num campo minado? E se a cumplicidade é apenas uma fachada que, ao primeiro arranhão, revela um abismo de traição e ressentimento? É essa a pergunta cruel que me persegue e que, de alguma forma, me puxa para histórias como a de Um Marido Fiel, um thriller dinamarquês que, mesmo sem ter pousado em terras brasileiras (ainda, espero eu!), capturou minha atenção lá fora em 2022 e não me soltou mais.

Sabe aquela sensação de que, por trás da fachada polida de uma família “perfeita”, há um vulcão prestes a entrar em erupção? Um Marido Fiel não só explora essa sensação, como a joga em sua cara com uma ferocidade que me deixou com um nó na garganta. Barbara Topsøe-Rothenborg, na direção, não tem medo de mergulhar nas profundezas mais sombrias da psique humana, e é exatamente por isso que eu sinto que preciso falar sobre este filme. Ele não te oferece respostas fáceis, e, francamente, quem as quer quando se está diante de um poço de complexidades humanas?

No centro da tempestade estão Christian (interpretado com uma ambiguidade perturbadora por Dar Salim) e Leonora (Sonja Richter, que entrega uma performance de gelar a espinha). Eles parecem ter tudo: uma vida estável, uma filha. Mas aí vem a reviravolta que, como um bisturi afiado, disseca a carcaça de seu casamento: a traição. Não é só a infidelidade que dói; é a ruptura da confiança, o vislumbre de que o alicerce que você jurava ser inabalável é, na verdade, feito de areia movediça. E o que acontece quando essa revelação detona a linha tênue entre o amor que existiu e o ódio visceral que agora o consome? Ah, meu amigo, é aí que a coisa fica boa… ou melhor, terrivelmente fascinante.

O filme não se contenta em mostrar a dor da traição. Ele avança, com uma marcha implacável, para o território da vingança e da retaliação mútua, onde Christian e Leonora tomam “medidas extremas” para conseguir o que querem. E “extremas” é a palavra-chave aqui. Você vê os personagens se transformando, suas feições antes talvez amáveis agora contorcidas por uma determinação gélida. Sonja Richter, especialmente, consegue transitar do desespero silencioso à fúria calculista com uma maestria que me fez prender a respiração. A dor de Leonora se solidifica em algo tão denso que você quase consegue tocar a raiva que emana dela. E Dar Salim? Ele nos faz questionar até que ponto o remorso é genuíno ou apenas mais uma peça no tabuleiro do autointeresse. Seus olhos carregam um peso, uma espécie de cansaço existencial que insinua que ele está em uma armadilha que ele mesmo armou.

Atributo Detalhe
Diretora Barbara Topsøe-Rothenborg
Produtores Barbara Topsøe-Rothenborg, Marcella Linstad Dichmann
Elenco Principal Dar Salim, Sonja Richter, Sus Wilkins, Mikael Birkkjær, Lars Ranthe, Morten Burian, Iris Mealor Olsen, Benjamin Kitter, Karoline Hamm, Natali Vallespir Sand
Gênero Thriller
Ano de Lançamento 2022
Produtora SF Studios

E não posso deixar de mencionar a presença de Sus Wilkins como Xenia, a pivô dessa desgraça. Em muitos thrillers, a “outra mulher” é um mero estereótipo, um catalisador superficial. Mas aqui, há nuances. Xenia não é apenas uma vilã unidimensional; há uma vulnerabilidade nítida em sua ambição, e você pode até sentir um pingo de pena por ela, mesmo sabendo o papel que desempenha. Isso é o que a diretora Topsøe-Rothenborg faz tão bem: ela nos força a enxergar a humanidade em todos os cantos, mesmo nos mais sombrios.

O ritmo do filme é algo a ser apreciado. Não é um festival de cenas de ação frenéticas. Pelo contrário, a tensão é construída meticulosamente, como uma teia de aranha que se torna mais densa e inescapável a cada minuto que passa. Há longos silêncios, olhares penetrantes que falam volumes, e a câmera muitas vezes se detém nos rostos dos personagens, permitindo que a angústia e a estratégia se desenrolem sem a necessidade de um diálogo excessivo. É uma dança lenta e perigosa entre dois indivíduos que antes se amavam e agora estão dispostos a tudo para se destruir, ou para sobreviver à destruição.

Mikael Birkkjær como o Comissário de Polícia, Lars Ranthe como Kim, e o restante do elenco de apoio, cada um contribui para a atmosfera sufocante. Eles são as peças que dão credibilidade ao mundo que esses dois protagonistas estão rasgando em pedaços. Eles são os olhares externos, os juízes silenciosos, ou as vítimas colaterais da guerra privada entre Christian e Leonora.

Um Marido Fiel é um convite para refletir sobre os limites da moralidade, sobre o quão fundo podemos ir quando a dor e a raiva nos corroem. É um lembrete vívido de que as paixões humanas, quando mal direcionadas, podem ser tão destrutivas quanto qualquer catástrofe natural. É um filme que, mesmo sem um lançamento no Brasil, merece ser descoberto por quem não tem medo de encarar o lado menos bonito da vida e das relações humanas. E olha, entre nós, não é exatamente aí que encontramos as histórias mais poderosas e que nos fazem pensar muito depois que os créditos sobem? Eu, pelo menos, sinto que sim.

Trailer

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