Pense numa panela de pressão. Aquela que a gente deixa apitando baixinho no canto do fogão, mas que, no fundo, a gente sabe que qualquer deslize na válvula pode causar um estrago daqueles na cozinha. É essa a imagem que me vem à mente quando reflito sobre a vida de tantas mulheres hoje em dia, e foi exatamente o que eu senti ao mergulhar em Uma Mulher Sem Filtro, que chegou aos cinemas brasileiros em agosto deste ano e, olha, já virou pauta de muitas conversas por aqui. Eu te digo, assistir a Bia explodir na tela é quase um rito de passagem catártico para quem vive engolindo sapos diariamente.
Por que escrevo sobre isso? Porque, sinceramente, quem nunca se viu nessa corda bamba, tentando equilibrar mil pratinhos ao mesmo tempo, enquanto o mundo insiste em jogar mais um na sua direção? Bia (uma Fabiula Nascimento simplesmente espetacular, já aviso!) é o retrato fiel dessa jornada. Ela não é uma super-heroína que nasce com poderes; ela é uma mulher real, com suas vulnerabilidades, suas inseguranças e, acima de tudo, uma paciência que, no início do filme, parece infinita, mas que sabemos, lá no fundo, está por um fio.
Imagine a cena: um marido (o Antônio de Emílio Dantas) que parece ter um GPS só para o sofá de casa, um enteado que faz da pedantice um estilo de vida, um chefe que exala machismo por todos os poros, uma amiga (Valentina, vivida por Louise D’Tuani) que parece ter o universo girando em torno do próprio umbigo e, pra completar, uma vizinha que não sabe o que é um fim de semana sem uma festa barulhenta que varava a madrugada. Ufa! Só de listar já dá um cansaço, não é? A vida de Bia é um malabarismo constante para manter a compostura, para sorrir quando quer gritar, para ser “compreensiva” quando a vontade é de mandar todo mundo para… bom, você entendeu.
E então, o que faltava para a panela explodir? Uma gota d’água, claro. E ela vem na forma de Paloma (Camila Queiroz), uma influencer jovem, com ares de “rainha da cocada preta”, que simplesmente assume uma posição superior à de Bia na revista. É o choque de gerações, o choque de culturas, o choque de tudo que Bia tentou manter sob controle. É nesse ponto que a gente percebe a genialidade do roteiro da Tati Bernardi, que, com sua acidez habitual, nos lembra que as pressões vêm de todos os lados, inclusive das que deveriam ser nossas aliadas. Bia está à beira do colapso, seus olhos refletem uma exaustão que nós, plateia, sentimos na pele. A gente torce, de verdade, para que ela encontre uma saída.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Arthur Fontes |
| Roteirista | Tati Bernardi |
| Elenco Principal | Fabiula Nascimento, Camila Queiroz, Emílio Dantas, Louise D'Tuani, Samuel de Assis |
| Gênero | Comédia |
| Ano de Lançamento | 2025 |
| Produtoras | Conspiração Filmes, H2O Films, Star Original Productions |
E a saída vem, de uma forma um tanto quanto inusitada, mas hilária e necessária, através da Deusa Xana e uma sessão esotérica que, bem, digamos que tem resultados… transformadores. Bia se liberta. Ela se livra de todos os filtros. E o que isso significa na prática? Significa tolerância zero para todos os absurdos que afetam o seu cotidiano. Aquele marido encostado? Vai ouvir umas verdades que nunca sonhou. O enteado pedante? Será desconstruído com a mesma maestria com que tenta se impor. O chefe machista? Verá sua autoridade ruir com respostas afiadas. A amiga autocentrada? Ganhará um espelho para refletir sobre a própria postura. E a vizinha festeira? Ah, essa sentirá o peso da falta de sono de Bia.
É nesse ponto que Uma Mulher Sem Filtro ascende de uma simples comédia a um grito divertido e, sim, muito potente de feminism. Não é uma revolução de barricadas e cartazes, mas uma revolução pessoal, interna, que ressoa com qualquer pessoa que já se sentiu silenciada ou diminuída. O diretor Arthur Fontes, com sua habilidade em extrair o riso das situações mais desconfortáveis, consegue costurar uma narrativa que nos mantém amused enquanto nos faz pensar. A gente ri, e ri alto, das reações de Bia, mas também reconhece nelas um desejo profundo de imposição de limites, de dignidade.
Fabiula Nascimento, no papel de Bia, é um show à parte. A transição de uma mulher contida para uma força da natureza sem papas na língua é feita com uma naturalidade que impressiona. Você vê a rigidez da mandíbula de Bia se soltar, a postura cansada se transformar em confiança, e a voz que antes era um sussurro se tornar um megafone. E o elenco de apoio? Perfeito para serem os alvos das novas verdades de Bia, com Emílio Dantas e Camila Queiroz especialmente notáveis em suas performances que, de um jeito ou de outro, catalisam a transformação de nossa protagonista. Gabriel (Samuel de Assis) também aparece como um ponto de apoio, mostrando que a vida não é só de gente chata.
Uma Mulher Sem Filtro é mais do que uma comédia para passar o tempo; é um espelho. Um espelho que nos força a questionar: quantos filtros carregamos? Quantos “sims” damos quando a vontade é de gritar “NÃO”? É um filme que, com leveza e muito humor, nos convida a uma reflexão sobre a importância de estabelecer limites, de valorizar a própria voz e de não ter medo de praticar a “tolerância zero” com aquilo que nos rouba a paz. E te digo, de coração, sair do cinema sentindo que você pode, sim, se dar a liberdade de ser um pouco mais “sem filtro” é um dos melhores presentes que um filme pode te dar. Não perca a chance de ver essa Bia em ação. Você vai se divertir, mas, mais importante, vai se identificar e, quem sabe, se inspirar.




