Olha, por que a gente ainda se encanta tanto com um bom “quem é o assassino?” A pergunta pode parecer simplória, mas eu, particularmente, acho que é porque a natureza humana, com suas fragilidades e mistérios, encontra no labirinto de um crime bem arquitetado um espelho fascinante. E é exatamente essa fascinação, essa curiosidade quase atávica, que me puxou de volta para Veja Como Eles Correm – um filme que, mesmo lançado lá em 2022, ainda ecoa na minha cabeça com a leveza de uma piada bem contada e a intriga de um nó bem dado.
A Londres dos anos 1950. Cigarros, névoa e um certo glamour de palco. Você consegue sentir o cheiro do chá forte e talvez um resquício de pó de arroz no ar? É nesse cenário que somos jogados, bem no coração de uma produção teatral que sonha em virar filme. Mas, como sempre acontece nas melhores histórias de mistério, o sonho vira pesadelo quando um membro da equipe é brutalmente assassinado. E aí, meu amigo, a cortina se abre para uma daquelas investigações que a gente adora seguir, passo a passo, pista a pista.
Tom George, o diretor, junto com o roteirista Mark Chappell, souberam cozinhar uma mistura que é, ao mesmo tempo, uma homenagem carinhosa aos clássicos de Agatha Christie e uma paródia esperta do próprio gênero. Não é apenas um mistério; é uma comédia ácida, um mergulho no lado sombrio e hilário do mundo do teatro. E essa dualidade é o que, pra mim, dá um tempero todo especial.
O grande trunfo, o que realmente faz essa engrenagem girar, é a dupla de detetives. Sam Rockwell, no papel do Inspetor Stoppard, entrega um sujeito calejado, com um quê de cinismo e um copo de gin sempre à mão. Ele se move com uma lentidão calculada, como se o mundo já tivesse lhe mostrado tudo o que podia mostrar. E, em contraponto, temos Saoirse Ronan como a Constável Stalker, uma novata cheia de entusiasmo, ávida por provar seu valor e, talvez, um tanto quanto ingênua. A química entre os dois é palpável, sabe? As tiradas de Stalker, sempre um passo à frente com suas observações óbvias que, por vezes, acabam sendo geniais, e o cansaço resignado de Stoppard se complementam de uma forma que rouba a cena. Não é que eles “funcionem bem juntos”; é que eles dançam juntos, cada um com seu ritmo, mas sempre em sintonia. Eles mostram a diferença de suas experiências sem que uma palavra precise ser dita sobre isso, apenas na forma como Stoppard puxa o cigarro e Stalker anota com fervor cada detalhe.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Tom George |
| Roteirista | Mark Chappell |
| Produtores | Gina Carter, Damian Jones |
| Elenco Principal | Sam Rockwell, Saoirse Ronan, Adrien Brody, Ruth Wilson, Reece Shearsmith |
| Gênero | Mistério, Comédia, Crime |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Searchlight Pictures, DJ Films, TSG Entertainment |
Outros nomes como Adrien Brody, interpretando o egocêntrico Leo Köpernick, ou Ruth Wilson, como a mordaz Petula Spencer, trazem camadas adicionais a esse universo de suspeitos excêntricos. Cada um deles é uma peça-chave no tabuleiro, adicionando pitadas de humor, drama e, claro, um motivo plausível para o crime. É um elenco que, sob a batuta de George, não só cumpre seu papel, mas brinca com ele, convidando você a rir do absurdo enquanto tenta desvendar o enigma.
Agora, se eu tivesse que apontar um detalhe que me fez torcer o nariz por um momento, seria o ritmo inicial. Alguns talvez achem que o filme arrasta um pouco na primeira hora, como um ensaio de teatro que ainda não pegou seu pulso. E talvez seja verdade, mas eu prefiro ver isso como uma construção deliberada, uma preparação para o crescendo. É como um chá que demora a infusionar, mas que, no final, entrega um sabor inesquecível. E o final, ah, os vinte minutos finais… são de tirar o fôlego! A trama se amarra de um jeito tão satisfatório que você esquece completamente qualquer lentidão inicial. As peças se encaixam, as reviravoltas chegam em cascata, e você se sente recompensado por cada minuto investido.
No fundo, Veja Como Eles Correm é uma carta de amor aos filmes de mistério, aos palcos de Londres e à arte de contar histórias. É um filme que não se leva tão a sério, mas que leva a sério a sua capacidade de entreter e, quem sabe, de nos fazer refletir sobre a complexidade das relações humanas, mesmo quando elas são tingidas de crime e comédia.
Então, se você busca uma noite com bom humor, um mistério instigante e a chance de ver dois atores brilharem juntos, dá uma chance a Veja Como Eles Correm. É uma peça que vale a pena assistir, mesmo que os holofotes se apaguem um pouquinho no começo, para depois acenderem com força total no grande final. Afinal, a vida é assim também, não é? Nem sempre um espetáculo do início ao fim, mas com momentos de pura genialidade que nos fazem querer aplaudir de pé.




