O cinema é, em sua essência, uma máquina do tempo. Ele nos transporta para outras realidades, outros sentimentos e, às vezes, para versões de nós mesmos que talvez tenhamos esquecido. Em 2022, quando Viajantes: Perdidos No Tempo chegou às salas, eu já sentia que algo especial estava no ar. Agora, em 17 de setembro de 2025, ao revisitar essa obra singular, minha convicção apenas se solidifica: Ana Cristina Martínez Pérez nos entregou um filme que é muito mais do que a soma de suas partes fantásticas.
A premissa, concebida por Luigi Moreno Barragán e Ana Cristina Martínez Pérez, é uma daquelas que prendem a atenção instantaneamente: acompanhamos Leo, um garoto cuja criatividade e imaginação transbordam, levando-o a vivenciar aventuras que, para ele, são absolutamente reais. Em uma dessas jornadas imaginárias – ou talvez não tão imaginárias assim – ele encontra Bobby, o novo menino do bairro. Bobby não é apenas um rosto novo; ele carrega consigo maneirismos, olhares e até um certo jeito de falar que remetem a alguém muito importante para Leo: seu pai. A crença de Leo, então, se cristaliza: ele acredita ter conseguido viajar no tempo, encontrando seu pai em uma versão mais jovem. O problema? Ambos acabam “perdidos no tempo”, em uma aventura que desafia as fronteiras da realidade e da fantasia.
Uma Jornada Além do Relógio
O que poderia ser apenas mais um filme infantil com elementos de fantasia, Viajantes: Perdidos No Tempo se eleva a um patamar mais sofisticado. A direção de Ana Cristina Martínez Pérez é um espetáculo à parte. Ela não apenas orquestra a narrativa com uma delicadeza palpável, mas também cria um universo visual que é simultaneamente vibrante e melancólico. Há uma sensibilidade em sua abordagem que permite ao espectador transitar entre a pureza da fantasia infantil e a complexidade das emoções humanas, especialmente a dor da ausência e a busca por conexão. A cada cena, a diretora nos convida a questionar o que é real e o que é fruto da mente de uma criança, e essa ambiguidade é um dos maiores pontos fortes do longa-metragem.
O roteiro, assinado por Martínez Pérez e Luigi Moreno Barragán, é astuto. Ele não se entrega a clichês baratos de viagem no tempo, mas utiliza o conceito como uma metáfora brilhante para o luto, a saudade e a imaginação como ferramenta de cura. A construção de Leo é rica, e sua determinação em “resgatar” seu pai, mesmo que subconscientemente, é o motor emocional do filme. A dinâmica entre Leo e Bobby é o coração pulsante da história, e a forma como o roteiro constrói essa relação, com suas nuances e descobertas, é simplesmente cativante. Não esperem um filme com explicações científicas sobre como voltar no tempo; a magia aqui é a emocional.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Ana Cristina Martínez Pérez |
| Roteiristas | Luigi Moreno Barragán, Ana Cristina Martínez Pérez |
| Elenco Principal | Fernanda Castillo, Juan Pablo Monte Rubio, Pato Alvarado Loza, Fabrizio Santini, Alex de la Madrid |
| Gênero | Drama, Família, Fantasia |
| Ano de Lançamento | 2022 |
Performances Que Tocam a Alma
O elenco é, sem dúvida, outro pilar que sustenta a grandiosidade de Viajantes: Perdidos No Tempo. Pato Alvarado Loza, no papel de Bobby, é uma revelação. Sua performance é cheia de carisma e uma certa sabedoria infantil que se encaixa perfeitamente na ambiguidade de seu personagem. É ele quem carrega grande parte do mistério e da emoção, e o jovem ator o faz com uma naturalidade impressionante. O resto do elenco principal – Fernanda Castillo, Juan Pablo Monte Rubio, Fabrizio Santini e Alex de la Madrid – entrega atuações que complementam e enriquecem a jornada dos protagonistas, cada um adicionando camadas de profundidade ao universo do filme, mesmo que seus papéis sejam mais de apoio à narrativa central de Leo e Bobby. Sinto que alguns poderiam ter tido mais espaço, mas a prioridade é claramente a dupla principal.
Forças e Fraquezas de Uma Viagem Emocional
Entre os pontos fortes, destaco a originalidade da abordagem de um tema tão complexo como a perda e a saudade através do olhar infantil e da fantasia. A cinematografia é primorosa, criando uma atmosfera onírica que nos transporta para o mundo de Leo. A trilha sonora também merece menção, pontuando os momentos chave com melodia e emoção na medida certa. O filme se encaixa perfeitamente nos gêneros Drama, Família e Fantasia, explorando cada um sem se perder.
No entanto, é justo apontar que, para alguns, o ritmo pode parecer um pouco lento em certos trechos, especialmente para aqueles que esperam uma aventura mais frenética. E embora eu aprecie a ambiguidade da “viagem no tempo”, pode haver quem se sinta frustrado pela falta de uma explicação mais concreta ou de uma resolução mais “realista” para o dilema de Leo. Para mim, essas não são falhas, mas escolhas artísticas que reforçam a identidade do filme. Mas, como crítico, entendo que nem todos se conectarão com essa sutileza.
Mensagens Que Ecoam
Os temas e mensagens de Viajantes: Perdidos No Tempo são universais e atemporais. Ele fala sobre a potência da imaginação como refúgio e ferramenta para processar emoções difíceis. Explora a complexidade dos laços familiares, a busca por identidade e a maneira como construímos nossa própria realidade a partir das nossas experiências e desejos. A mensagem final é de esperança e aceitação: a fantasia pode ser uma ponte para a realidade, ajudando-nos a compreender e a lidar com o que não podemos mudar. É um abraço reconfortante para quem já se sentiu perdido, seja no tempo ou na própria vida.
Recomendação Final: Embarque Nesta Jornada
Viajantes: Perdidos No Tempo não é apenas um filme; é uma experiência. Lançado em 2022, ele se mantém relevante e tocante em 2025, provando que boas histórias têm o poder de transcender o tempo. É uma obra que eu recomendo fervorosamente para famílias que buscam algo mais do que mero entretenimento, para aqueles que apreciam o cinema que faz pensar e sentir, e para qualquer um que, como Leo, ainda acredita na magia de encontrar o que se perdeu. Preparem-se para um drama familiar com um toque de fantasia que, a meu ver, é um dos mais belos longas-metragens dos últimos anos. Não deixem essa viagem passar.




