Confesso, demorei a escrever essa resenha sobre Watchmen. Não por falta de admiração, mas pelo peso que o filme carrega. Em 2009, quando estreou no Brasil, em 6 de março, Watchmen não foi apenas mais um filme de super-heróis; foi um soco no estômago disfarçado de obra-prima. Quase dezesseis anos depois, em 15 de setembro de 2025, ele continua a me assombrar, e acredito que por isso mesmo, ainda resiste tão bem ao tempo.
Uma Conspiração que Transcende a Tela
Em essência, Watchmen acompanha Rorschach, um vigilante mascarado implacável, numa investigação desencadeada pela morte de um antigo colega. Essa investigação o leva a um turbilhão de segredos e conspirações que envolvem ex-super-heróis, uma trama potencialmente catastrófica e a ameaça de um holocausto nuclear. A sinopse por si só não faz justiça à complexidade da narrativa, mas descreve o ponto de partida para uma jornada tensa, carregada de suspense e reflexões sobre moralidade, poder e a natureza da humanidade. Não esperem um filme heroico no sentido tradicional; este é um mergulho na escuridão da alma humana, disfarçado numa história de super-heróis.
Snyder, a Visão e a Intangível Presença de Manhattan
Zack Snyder, diretor com um estilo visual inconfundível, encontrou na obra de Alan Moore e Dave Gibbons um terreno fértil para sua estética. A paleta de cores, a fotografia opressiva, e a montagem quase operática criam uma atmosfera visualmente impactante que reflete perfeitamente a atmosfera sombria da trama. A escolha pelo formato widescreen intensifica a sensação de claustrofobia e paranoia. A cena animada que contextualiza o Dr. Manhattan é genial; uma prova de que Snyder entendeu a essência da obra-prima em quadrinhos. O roteiro, trabalho conjunto de David Hayter e Alex Tse, apesar de algumas liberdades em relação à HQ original (e eu sei que alguns puristas vão discordar!), conseguiu preservar a alma da história, os dilemas morais e a complexidade de seus personagens.
As atuações são impecáveis. Jackie Earle Haley como Rorschach é memorável, uma interpretação visceral e aterradora. Malin Åkerman, Patrick Wilson, Billy Crudup e Matthew Goode também entregam performances sólidas, interpretando personagens complexos e multifacetados com bastante nuances.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Zack Snyder |
| Roteiristas | David Hayter, Alex Tse |
| Produtores | Deborah Snyder, Lawrence Gordon, Wesley Coller, Lloyd Levin |
| Elenco Principal | Malin Åkerman, Patrick Wilson, Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley |
| Gênero | Mistério, Ação, Ficção científica |
| Ano de Lançamento | 2009 |
| Produtoras | Warner Bros. Pictures, Paramount Pictures, Legendary Pictures, DC, Lawrence Gordon Productions, Lloyd Levin Productions |
Pontos Fortes e Fracos: Uma Equação Delicada
Watchmen é um filme ambicioso, e por isso, corre riscos. Sua complexidade e densidade narrativa podem afastar alguns espectadores. A lentidão em certos momentos pode ser considerada um defeito por alguns, mas eu discordo. Ela é crucial para construir a atmosfera de suspense. A narrativa não linear pode ser inicialmente confusa, mas se recompensa ao final. O filme arrisca e propõe uma leitura mais madura sobre o conceito de herói e o peso da ação, e esse é seu maior trunfo.
Outro ponto, talvez polêmico, é a adaptação de algumas cenas. A adaptação cinematográfica, inevitavelmente, deixa coisas de fora. Mas, o que Snyder e a equipe criaram consegue capturar a essência da obra original, mesmo com modificações.
O Legado de Watchmen: Reflexões sobre um Mundo à Beira do Abismo
Watchmen não é apenas uma história de super-heróis; é uma parábola sobre a Guerra Fria, o medo de uma guerra nuclear, a manipulação política, e a responsabilidade dos atos humanos. O presidente norte-americano, a União Soviética, a ameaça de aniquilação nuclear… tudo isso é cenário para uma profunda reflexão sobre o destino da humanidade e as consequências de nossas ações. O filme é profundamente pessimista, mas também profundamente humano, e explora temas universais com inteligência e profundidade. A icônica imagem do relógio do fim do mundo (Doomsday Clock) resume o tom de apreensão que permeia a narrativa.
Conclusão: Uma Obra-Prima para Ser Revisada
Apesar de seus defeitos (e poucos são!), Watchmen permanece, em 2025, como um filme notável, impactante e profundamente relevante. Ele não é uma aventura leve e divertida; é uma experiência cinematográfica intensa, que exige atenção e reflexão. Se você está à procura de um filme de super-heróis convencional, procure outro. Mas, se busca uma obra de arte visualmente deslumbrante, narrativamente complexa e tematicamente rica, não hesite: corra para as plataformas digitais e assista a Watchmen. A experiência vai ficar para sempre em sua memória. Recomendo-o fortemente, especialmente para aqueles que apreciam filmes inteligentes, com camadas de significado e que transcendem o gênero ao qual pertence.




