Xógum: A Gloriosa Saga do Japão

Desde que os primeiros rumores começaram a circular, e depois com a chegada dos trailers, a expectativa em torno de Xógum: A Gloriosa Saga do Japão era palpável. E por que não seria? Para mim, um entusiasta das narrativas épicas e da história bem contada, reviver o universo de James Clavell, ainda que numa roupagem nova, era um convite irrecusável. A versão de 1980 marcou uma geração, e a responsabilidade de honrar esse legado, ao mesmo tempo em que se cria algo relevante para o público de 2024 e além, é imensa. Será que conseguiríamos, nós, os espectadores, ser transportados para o Japão feudal com a mesma maestria? A resposta, sem rodeios, é um sonoro “sim”.

O que “Xógum” nos oferece é mais do que uma série de televisão; é uma imersão. A tela se abre e somos arremessados no turbilhão político do Japão de 1600, um período de transição violenta e de poder precário. O Senhor Yoshii Toranaga, interpretado com uma gravidade magnética por Hiroyuki Sanada, encontra-se numa encruzilhada mortal. Os inimigos no Conselho dos Regentes se fecham sobre ele, cada passo um cálculo, cada silêncio uma ameaça. A série nos convida a sentir o peso da coroa, a claustrofobia da intriga, o cheiro de incenso misturado com o ferro do sangue que espreita em cada esquina. E, como se o caldeirão político não fosse fervente o suficiente, a chegada de um navio europeu, encalhado e misterioso, joga uma nova variável, um elemento externo imprevisível, nesse xadrez de vida e morte.

A beleza de “Xógum” reside justamente nessa intrincada teia de eventos e, principalmente, nos personagens que a habitam. Hiroyuki Sanada não apenas interpreta Yoshii Toranaga; ele é Toranaga. Cada olhar, cada gesto contido, cada sílaba proferida com uma calma que esconde vulcões de estratégia e desespero, fala volumes. Vemos nele não apenas um lorde feudal, mas um homem calculista, forçado a jogar um jogo onde as peças são vidas e a vitória é incerta. Ao seu lado, e em choque cultural direto, está John Blackthorne, o “Anjin” (marinheiro), papel que Cosmo Jarvis abraça com uma intensidade crua. Blackthorne é o nosso portal, os olhos ocidentais atônitos diante de um mundo de códigos, rituais e filosofias tão diferentes. Sua frustração, sua curiosidade, sua adaptabilidade forçada são palpáveis, e a série não tem medo de nos mostrar as arestas ásperas desse encontro de mundos.

Mas a verdadeira ponte entre esses universos, e talvez o coração pulsante da série, seja Toda Mariko, lindamente trazida à vida por Anna Sawai. A inteligência e a dor de Mariko, uma mulher dividida entre seu dever, seu passado trágico e a necessidade de sobreviver e encontrar seu próprio caminho, são retratadas com uma sensibilidade cortante. Ela é mais do que uma tradutora; ela é uma guerreira silenciosa, uma estrategista, uma alma em busca de propósito num mundo dominado por homens e convenções rígidas. As sutilezas de sua performance são um espetáculo à parte, revelando camadas de força e vulnerabilidade que nos prendem.

AtributoDetalhe
CriadoresRachel Kondo, Justin Marks
ProdutoresHiroyuki Sanada, Eriko Miyagawa, Jamie Vega Wheeler, Tom Winchester, Erin Smith
Elenco PrincipalHiroyuki Sanada, Cosmo Jarvis, Anna Sawai, 浅野忠信, 平岳大
GêneroDrama, War & Politics
Ano de Lançamento2024
ProdutorasFX Productions, Michael De Luca Productions, Gate 34

Os criadores Rachel Kondo e Justin Marks, junto a uma equipe de produção meticulosa – com nomes como Hiroyuki Sanada também na produção, o que sublinha o compromisso com a autenticidade – conseguiram algo raro. Eles não apenas recontaram uma história; eles a infundiram com um respeito quase reverencial pela cultura e história japonesas. A atenção aos detalhes é assombrosa: desde a arquitetura de uma casa de chá à ornamentação de uma armadura, passando pela etiqueta cerimonial e as nuances da língua. É visível que a equipe se empenhou em não romantizar nem condenar o Japão do século XVI, mas simplesmente apresentá-lo. Isso se reflete na forma como o drama é construído, evitando o maniqueísmo fácil, preferindo explorar as complexidades morais de cada personagem, as razões por trás de suas escolhas, por mais brutais ou honrosas que sejam.

“Xógum” é uma série que respira profundidade. Não se trata de uma narrativa apressada; o ritmo é deliberado, permitindo que a tensão se acumule como a fumaça de um vulcão adormecido. Cada diálogo é carregado de significado, cada pausa, um campo minado de intenções ocultas. Os embates não são apenas nos campos de batalha, mas nas salas de tatami, nas trocas de olhares, nas estratégias de longuíssimo prazo. É um drama de guerra, sim, mas também um drama político em seu cerne mais visceral, onde a lealdade é moeda de troca e a traição é uma sombra constante.

Ao término de cada episódio, e tendo acompanhado a série desde seu lançamento em 2024, me pego refletindo sobre a beleza e a brutalidade da existência humana. Xógum: A Gloriosa Saga do Japão não é apenas uma série para ser vista; é uma experiência para ser vivida. É um lembrete de que as grandes histórias, quando contadas com paixão, respeito e uma execução impecável, transcendem o tempo e a mídia, continuando a nos fascinar e a nos fazer questionar o que significa ser humano diante do destino e do poder. E isso, meu caro leitor, é o verdadeiro triunfo de uma obra que, sem dúvida, já se consolidou como um marco na televisão.

Trailer

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