Néro

Quando a sinopse de Néro começou a circular pelos burburinhos do universo das séries, admito que senti um misto de curiosidade e um certo ceticismo. França, 1504. Um assassino impiedoso fugindo com a filha que ele mal conhece para protegê-la. Tá, a premissa, por si só, não é exatamente uma novidade. Quantas histórias de homens marcados pelo passado encontrando redenção através da paternidade já nos foram contadas? Incontáveis, eu diria. Mas, veja bem, o que me fez realmente sentar e prestar atenção, lá por volta de 2024, quando os primeiros teasers começaram a pipocar, foi a promessa de algo mais sombrio, mais visceral, algo que os criadores Allan Mauduit, Jean-Patrick Benes e Martin Douaire pareciam ter a intenção de entregar. E, agora que 2025 está quase no fim e a temporada de estreia já nos envolveu completamente, posso dizer: Néro não é só mais uma dessas histórias; ela respira uma vida própria, crua e pulsante.

Primeiro, vamos falar de ambiente, né? Aquela França de 1504 não é apenas um cenário de fundo; é quase um personagem. Os diretores de arte e a equipe de produção da Karé Productions e Summertime Films fizeram um trabalho que te puxa para dentro daquele mundo. Você quase consegue sentir o cheiro da fuligem das fogueiras, o frio úmido das florestas densas e o peso da precariedade que dominava a vida. Não é a Renascença dourada e iluminada que muitas vezes nos pintam; é uma era de sombras, de superstições e de uma violência brutal que espreita em cada esquina. E é nesse caldeirão que Néro, interpretado com uma intensidade assombrosa por Pio Marmaï, tem que navegar.

Marmaï, para quem já o acompanha, é um ator que habita seus personagens de uma forma quase assustadora. Aqui, ele não nos entrega apenas um assassino habilidoso; ele nos dá um homem corroído por suas escolhas, mas que, de repente, se vê diante de um laço inquebrável. Néro é um enigma. Seus olhos, muitas vezes frios e calculistas, revelam uma vulnerabilidade recém-descoberta quando Perla (a jovem Λίλι-Ρόουζ Καρλιέ Ταμπουρί, em uma atuação que surpreende pela profundidade) entra em cena. A dinâmica entre pai e filha, inicialmente uma dança desajeitada de desconfiança e necessidade, floresce em algo genuíno e doloroso de se assistir. Perla não é uma figura passiva, esperando ser salva. Ela é observadora, resiliente, e por vezes, a bússola moral de um pai que, até então, vivia sem uma. Essa é a verdadeira força da série: ver essa humanidade nascer em meio ao caos.

E o caos, ah, ele vem de todos os lados. As “forças malignas” e os “inimigos mortais” mencionados na sinopse não são figuras abstratas. Eles têm rostos, ambições e uma crueldade palpável. Olivier Gourmet como Horace traz uma gravidade quase sacerdotal, um homem que talvez acredite na justiça de seus próprios meios. E Louis-Do de Lencquesaing, como Nicolas de Rochemort, é um antagonista que exala perigo e astúcia, um verdadeiro predador político. Mas a série também nos presenteia com uma figura feminina que desestabiliza todas as expectativas. Alice Isaaz, interpretando Hortense, não é só uma coadjuvante; ela é uma força da natureza, uma mulher à frente de seu tempo, cujas motivações e alianças são um terreno movediço. Eu diria, com uma ponta de entusiasmo, que a série ousa subverter a tradicional jornada do “herói” ao colocar em destaque a complexidade e o poder das figuras femininas que cruzam o caminho de Néro, mostrando que a força não se manifesta apenas na brutalidade física. É fascinante ver como essas interações moldam não só o destino dos personagens, mas também a própria narrativa.

AtributoDetalhe
CriadoresAllan Mauduit, Jean-Patrick Benes, Martin Douaire
DiretorAllan Mauduit
RoteiristasJean-Patrick Benes, Raphaëlle Richet, Martin Douaire, Nicolas Digard, Allan Mauduit
Elenco PrincipalPio Marmaï, Alice Isaaz, Olivier Gourmet, Louis-Do de Lencquesaing, Λίλι-Ρόουζ Καρλιέ Ταμπουρί
GêneroDrama, Action & Adventure
Ano de Lançamento2025
ProdutorasKaré Productions, Summertime Films

Os roteiristas Jean-Patrick Benes, Raphaëlle Richet, Martin Douaire, Nicolas Digard e Allan Mauduit não se contentam com soluções fáceis. Eles constroem um enredo que é uma teia intrincada de alianças frágeis, traições inesperadas e momentos de tirar o fôlego. As sequências de ação são brutais e realistas, sem a glamorização que por vezes vemos em produções do gênero. Cada golpe, cada corte, cada fuga é sentida na pele. Mas, para mim, o verdadeiro brilho está nos momentos de quietude, nas conversas sussurradas à beira de uma fogueira, nos olhares carregados de significado entre Néro e Perla. É aí que a série mostra sua alma.

Sim, Néro pode não ser para todos os gostos. Há violência, há escuridão, e há a crueza da natureza humana em sua forma mais desprotegida. Mas, se você, como eu, procura por uma série que não tem medo de mergulhar nas sombras para encontrar um lampejo de luz, que desafia as convenções do gênero e que te faz sentir, vibrar e refletir sobre os laços mais primários que nos definem, então esta é a sua pedida. Eu me peguei prendendo a respiração em vários momentos, torcendo contra e a favor de personagens que não são nem puramente bons, nem puramente maus. É essa ambiguidade que torna Néro tão vívida e tão real. É uma história de redenção, sim, mas também uma de sobrevivência, de busca por identidade e da resiliência indomável do espírito humano, mesmo nos cantos mais sombrios da história. Vale cada minuto.

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